quinta-feira, 7 de abril de 2016

Carta para a minha mãe, por Lisiane Andriolli Danieli.

Porto Alegre, 14 de março de 2016
Mãe,
Te escrevo porque estou angustiada. Desde nova, sempre que chegava perto de ti tinha certeza da tua leitura instantânea de meus sentimentos. Hoje, na distância, não podes me descobrir. Os últimos dias têm sido difíceis. O coração aperta e mesmo o vento quase frio batendo em meu rosto não é capaz de me livrar desse nó na garganta.
Quando me sentava contigo enquanto fazias tricô, queria conseguir decifrar a sensação que tinhas. Os fios passando de um lado ao outro, o novelo diminuindo e algo novo se formando. Teu olhar perdido para a porta anunciava tua ansiedade. Te imagino nesse processo em noites quase solitárias à minha espera. Não voltarei mais todas às vezes. Eu cresci.
Sempre que recordo da minha infância, me arrependo dos bilhetes que escrevi para colocar no teu travesseiro. Não eram cartas de amor, eram de profunda hostilidade, e agora entendo o meu temor em tornar-me, assim como tu, mãe. Percebo meu erro em te culpar por todas as funções que te impunhas, por tudo que eu tinha certeza que também deveria fazer. Com meu desenvolvimento, tiveste a chance de me mostrar que tu eras mais que mãe, mais que dona de casa, mais que esposa. És uma mulher forte, batalhadora, teimosa, controladora. És o melhor que poderias ter sido.
O que sinto agora é também alegria, porque sei que tu sempre vais estar comigo. Tu vais me apoiar. E eu estou contigo. Tudo que tu me ensinaste está em mim, e tu também aprendeste comigo. Crescemos e mudamos juntas. Continuaremos assim.
Com todo amor do mundo.
Lisiane.



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