Porto Alegre, 14
de março de 2016
Mãe,
Te escrevo
porque estou angustiada. Desde nova, sempre que chegava perto de ti tinha
certeza da tua leitura instantânea de meus sentimentos. Hoje, na distância, não
podes me descobrir. Os últimos dias têm sido difíceis. O coração aperta e mesmo
o vento quase frio batendo em meu rosto não é capaz de me livrar desse nó na
garganta.
Quando me sentava
contigo enquanto fazias tricô, queria conseguir decifrar a sensação que tinhas.
Os fios passando de um lado ao outro, o novelo diminuindo e algo novo se
formando. Teu olhar perdido para a porta anunciava tua ansiedade. Te imagino
nesse processo em noites quase solitárias à minha espera. Não voltarei mais
todas às vezes. Eu cresci.
Sempre que
recordo da minha infância, me arrependo dos bilhetes que escrevi para colocar
no teu travesseiro. Não eram cartas de amor, eram de profunda hostilidade, e
agora entendo o meu temor em tornar-me, assim como tu, mãe. Percebo meu erro em
te culpar por todas as funções que te impunhas, por tudo que eu tinha certeza
que também deveria fazer. Com meu desenvolvimento, tiveste a chance de me
mostrar que tu eras mais que mãe, mais que dona de casa, mais que esposa. És
uma mulher forte, batalhadora, teimosa, controladora. És o melhor que poderias
ter sido.
O que sinto agora
é também alegria, porque sei que tu sempre vais estar comigo. Tu vais me
apoiar. E eu estou contigo. Tudo que tu me ensinaste está em mim, e tu também
aprendeste comigo. Crescemos e mudamos juntas. Continuaremos assim.
Com todo amor do
mundo.
Lisiane.
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